O Programa de Saúde Vocal (PSV), voltado para os professores da rede municipal de Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro, ofereceu a fonoaudiólogos que atuam no programa capacitação para notificação de disfonia ocupacional. A capacitação para preenchimento da Ficha de Notificação Individual foi oferecida a nove fonoaudiólogos por Viviane Fontes (CRFa 1-8839), fonoaudióloga do CEREST (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador) e da Vigilância em Saúde do Trabalhador do Município do Rio, na última terça-feira (6).
A coordenadora do PSV, Julianna Ferrer (CRFa 1-9545), informou que embora haja afastamentos do trabalho em função da perda de voz, a disfonia ocupacional não vem sendo notificada por falta de conhecimento em como apresentar os dados ao Sinam (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) do Ministério da Saúde.
“Para preenchimento da ficha é preciso treinamento. Identificamos a importância de alavancar isso. Trabalhamos diretamente com professores e é preciso comprovar essa causalidade, de que o trabalho em sala de aula e o uso incisivo da voz podem piorar a qualidade vocal do professor. Essa comprovação, através da notificação, vai corroborar a necessidade do nosso trabalho e de sua continuidade”, explicou Julianna Ferrer.
Segundo Julianna, todo professor, quando entra na Prefeitura do Rio, passa pelo programa e aprende a como preparar e cuidar da voz em seu dia a dia. Com a implantação do PSV e seu caráter preventivo, a coordenadora do programa atesta que diminuíram os afastamentos e desvios de função decorrentes de disfonia entre os docentes, mas servidores da perícia alertaram o setor que voltou a aumentar o número de afastamentos em 2016. Mesmo assim, só dois casos foram notificados ano passado.
“Qualquer fonoaudiólogo deveria estar apto a notificar ao Sinam tanto a PAIR (Perda Auditiva Induzida por Ruído) como a disfonia ocupacional, já que as notificações são compulsórias, mas nossos colegas ainda não notificam os agravos como deveriam”, afirmou Viviane Fontes.
A Resolução CFFa nº 428/2013 prevê a obrigatoriedade da notificação de agravos pelos fonoaudiólogos em saúde do trabalhador, mas Viviane Fontes acredita que por desconhecimento dessa responsabilidade ou de como preencher o formulário, essa ainda não é uma prática comum entre os profissionais de Fonoaudiologia.
Segundo ela, a PAIR já é reconhecida como uma doença relacionada ao trabalho em todo o país, mas a disfonia não. Só que, no Rio de Janeiro, a Resolução Estadual SES nº 674/2013 tornou a notificação de disfonia ocupacional obrigatória no estado.
“A notificação produz dados epidemiológicos. Quando não notificamos, deixamos de produzir informação ao Ministério da Saúde ou aos gestores públicos que definem políticas públicas. Se alimentamos o banco epidemiológico com dados reais, produzimos conhecimento do perfil de adoecimento da população e orientamos o surgimento de programas e políticas de saúde pública e em reabilitação. De alguma forma, podemos justificar a abertura de concursos públicos em Fonoaudiologia ou a presença de fonoaudiólogos ou não na assistência”, ressaltou Viviane Fontes.
Para a presidente da Subcomissão de Voz do CREFONO1, Tatiana Barcellos (CRFa 1-13451), capacitar o fonoaudiólogo e, juntos, “nos conscientizar quanto à nossa grande capacidade de força através de um coletivo empoderamento farão com que o espaço da Voz seja cada vez mais expandido e reconhecido”. E completou: “Sem dados, não há comprovação do adoecimento de uma classe profissional ou da população. Portanto, cabe a nós, fonoaudiólogos, mostrarmos esta relevância de forma objetiva e pontual”, opinou Tatiana Barcellos.
A conselheira do CRFa 1ª Região contou que, em fevereiro deste ano, a Subcomissão de Voz recebeu Viviane Fontes e, como pauta, a necessidade de notificação. “Sem notificação, não há como saber a quantidade de doentes por motivos vocais. Acredito que este seja o pontapé para que possamos ter o reconhecimento da Disfonia como uma doença ocupacional em todo o país. Tenho certeza que este treinamento com a fonoaudióloga Viviane Fontes na Prefeitura do Rio de Janeiro foi um grande sucesso, proporcionando sementes para grandes conquistas. O CRFa1 abraça esta ideia. Vamos, juntos, mostrar a nossa Voz!”, concluiu Tatiana Barcellos.
Por Rose Maria, Assessoria de Imprensa
Fotos: Márcia Mehta, Divulgação CREFONO1