“O corpo fala”. No Carnaval, então…
Há mais de 15 anos, a fonoaudióloga Isabel Monteiro Gomes (CRFa 1-7644) trabalha com profissionais que usam a voz como ferramenta de trabalho no Carnaval. Ela acompanhava as agremiações como foliã e passou a atender intérpretes de samba, puxadores de blocos de rua e pagodeiros no consultório, bem como a trabalhar canto e preparação vocal de Rei Momo e Rainha do Carnaval.
“Sempre observava o que acontecia na quadra. Era comum o pensamento de que a voz vem de Deus. Não havia nenhuma preparação vocal. Quando a gente entrou, eles começaram a entender que quanto mais se preparavam, mais sólidos ficavam no mercado de trabalho”, ressaltou Isabel Monteiro.
Há pelo menos cinco anos ela criou o projeto A Voz no Samba, que procura aprimorar as apresentações de escolas de samba e blocos de rua. “O cantor precisa entender a voz como empresa, como ferramenta no mercado de trabalho”, diz ela.
Assim, além dela, responsável técnica pelo projeto, a equipe básica envolve professor de canto, otorrinolaringologista, técnico de sonorização para ensaios no estúdio e educador físico. A equipe de apoio, que é acionada para situações pontuais, reúne fisioterapeuta, nutricionista, músico, dentista, entre outros profissionais. “É um trabalho multi e interdisciplinar, que começa com a apresentação da sinopse e só termina depois do desfile”, resume.
Isabel Monteiro lembra que o Carnaval é uma representação da cultura brasileira, um evento artístico em espaço aberto que provoca encantamento. Mas também é um produto da economia que movimenta R$ 6 bilhões no Brasil. A fonoaudióloga acredita que 50% a 60% desse valor circula no Rio de Janeiro, pioneiro nesse mercado. “A preparação vocal traz qualidade de vida pessoal e profissional. Uma performance com qualidade abre mais espaço de trabalho”, assegura Isabel.
Então, é preciso trabalhar velocidade, ritmo de fala (fluência), articulação, respiração, resistência, frequência da palavra na frase melódica idealizada pelo compositor dentro da sinopse, enfim, vários aspectos.
Isabel Monteiro já trabalhou com Portela, Mocidade de Padre Miguel, Imperatriz Leopoldinense e atualmente acompanha Salgueiro e Estácio de Sá. “Importante lembrar que Fonoaudiologia não é só voz, assim como samba não é só melodia. Lidamos com a comunicação humana como um todo: gestos, postura, expressão facial e corporal, modo respiratório. Numa escola de samba, por exemplo, trabalhamos com o diretor de harmonia, a bateria e os músicos”, reforça.
Para a professora de canto do projeto a Voz do Samba, Valéria Correia, que atua com voz cantada e corais, a Fonoaudiologia tem um papel fundamental nesse cenário que leva alegria para as ruas todo o início de ano. “Eu sem a fonoaudióloga, não resolvo nada. Trabalhamos com respiração, que é o que move a vida. A pessoa fala de uma forma, canta de outra e, na hora de cantar, é preciso se adequar ao samba. Não é só a voz, mas o corpo também. A harmonia é fundamental”, afirmou.
O fonoaudiólogo Reynaldo Lopes (CRFa 1-6914), professor da Universidade Veiga de Almeida, coordenou em 2019, ao lado da fonoaudióloga recém formada Helenice Cristina Mello (CRFa 1-15926) uma pesquisa sobre voz no samba. O trabalho demonstrou que o índice de risco vocal para cantores de samba é de 32% se não cuidarem da voz. O trabalho de conclusão do curso de Fonoaudiologia de Helenice e outros colegas ganhou prêmio de iniciação científica da UVA pelo pioneirismo.
Reynaldo Lopes é especialista em Voz e atua com cantores de roda de samba e sambistas o ano inteiro. “O profissional precisa se convencer que a voz é o seu instrumento. O músico cuida do seu instrumento com muito carinho. E o cantor também precisa afinar e cuidar do seu instrumento, para evitar problemas. E a Fonoaudiologia é a parceira que vai orientá-lo para trilhar seu caminho com segurança, confiança e de maneira saudável”, concluiu Reynaldo Lopes.
Confira o podcast do CREFONO1 sobre Cuidados com a Voz no Carnaval, com Isabel Monteiro Gomes.
Por Rose Maria S. Alves, Assessoria de Imprensa
Em 21 de fevereiro de 2020
Foto cedida pela fonoaudióloga Isabel Monteiro
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